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No programa serão apresentadas duas peças de Schumann cujo tema é o carnaval. Você poderia falar um pouco sobre a importância desse universo de fantasia e mascaradas na obra do compositor alemão?
MARIA TERESA MADEIRA: Schumann mantinha em grande parte de sua obra uma forte ligação com a literatura; com isso, seu imaginário se tornou abrangente. O Carnaval op 9 foi escrito entre 1832 e 1840. São 20 peças escritas na juventude, porém de extrema maturidade musical e pianística, revelando influências de seus contemporâneos, e homenageando-os direta ou indiretamente. As referências no op 9 são do carnaval europeu, dos grandes bailes e dos grandes salões. O carnaval de Viena foi composto em sua estada na capital austríaca. Como todo artista naquela época, Schumann tinha planos de se fixar por lá. O que não aconteceu… Os dois carnavais guardam em si um humor sutil, de pianismo impecável, quase música programática.
O Carnaval dos animais, de Saint Säens, pode ser incluído no pequeno grupo de peças satíricas existentes no repertório erudito. Em sua opinião, qual a razão do humor ser tão raro no mundo da música clássica?
MARIA TERESA: Acho particularmente que o humor é sutil, mas ele aparece mais do que se imagina, inclusive no Schumann. Temos obras de Rossini, Bernstein e tantos outros, sem citar os brasileiros (Tim Rescala, Gilberto Mendes, Jorge Antunes). Mas acredito também que o humor tem se transformado e muitas vezes essa sutileza em sua utilização se torna a mais rara.
Quais as principais conexões entre Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth, Noel Rosa e Villa-Lobos?
MARIA TERESA: Todos se utilizaram do carnaval como tema, como inspiração sob vários aspectos. Chiquinha por exemplo compôs para o Carnaval em si, além de ter obras inspiradas nele. Nazareth possui algumas obras que escreveu como sendo tango carnavalesco ou marcha carnavalesca. Villa Lobos se inspirou no carnaval em várias de suas criações. Noel Rosa escreveu As pastorinhas, o que dispensa qualquer comentário.
Um concerto com uma linha temática ligando compositores tão diversos é muito instigante para a plateia. Seria muito interessante que a proposta prosseguisse durante o ano. Vai haver alguma iniciativa nesse sentido?
MARIA TERESA: Teríamos assunto para o ano todo, caso esse projeto se estendesse, o que eu acharia maravilhoso. Na verdade o carnaval nunca se esgota, ele se desdobra e se reinventa.
Diante do cenário de incertezas que se desenhou em 2017, quais as perspectivas para a música clássica em 2018 em nossa cidade e estado?
MARIA TERESA: Nossa cidade e nosso estado estão com muitos problemas, independente do que causou isso tudo, e acredito que vai depender do esforço conjunto de todos nós não deixarmos que nossa vida pare. Nós queremos e o público também. O fomento nunca foi o ideal e ultimamente tem sido quase que inexistente. Mas seguimos com muita vontade e imaginação pra tentar não “deixar a peteca cair”. As parcerias são importantes, principalmente nessas épocas difíceis. A Sala Cecilia Meireles, por exemplo, “comprou” essa ideia junto comigo, alias conosco (eu, Lucia, Erika, Rodolfo e Marcelo) e nos apoio no que foi possível. E assim vamos seguindo e fazendo música. Viva o Carnaval!
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CARNAVAL EM CONCERTO
Quando: 2 a 3 de fevereiro de 2018, às 20h
Onde: Sala Cecília Meireles | Largo da Lapa, 47 | Clique aqui para ir ao site da Sala.
Quem: Maria Teresa Madeira, Lucia Barrenechea e Erika Ribeiro (pianos); Rodolfo Cardoso (percussão); Marcelo Rodolfo, narração