Crítica – Colunista da Folha de São Paulo, jornalista e biógrafo, Ruy Castro fala sobre a obra integral de Ernesto Nazareth por Maria Teresa Madeira.
RIO DE JANEIRO – Ernesto Nazareth, uma das glórias da música brasileira, nunca imaginou, em seus 71 anos de vida (1863-1934), que um dia sua obra para piano pudesse ser ouvida, admirada e amada em sua totalidade. Pois é o que acontece agora, com a caixa de 12 CDs contendo a integral de suas 215 composições, executadas pela respeitada pianista carioca Maria Teresa Madeira. Graças a ela, tem-se finalmente uma visão mais completa da grandeza de Nazareth.
Aqui estão lundus, polcas, valsas, tangos brasileiros, quadrilhas, schottisches, gavotas, maxixes, polonesas, fados, canções, cançonetas, marchas, mazurcas, hinos, foxtrotes, habaneras, choros e até, como ele os chamava, sambas carnavalescos. É o Brasil do Segundo Reinado e dos primeiros anos da República. Poucos países teriam uma trilha sonora tão rica em matéria de música popular — música esta que, no caso de Nazareth, interessa cada vez mais aos estudiosos e intérpretes da música erudita, das quais Maria Teresa é uma.
Maria Teresa só conseguiu criar este monumento porque tinha um estúdio profissional de gravação dentro de casa, em Laranjeiras — o de seu marido, Marcio Dornelles, também apaixonado por Nazareth. Nesse sentido, esta é talvez a maior produção fonográfica doméstica já feita no Brasil.É de se perguntar como, diante da mesquinhez de nossa indústria cultural, foi possível realizar esta façanha. Na verdade, se Maria Teresa soubesse que era impossível, não a teria realizado. E nem um prêmio de R$ 200.000 (brutos) que ganhou da Funarte – e decidiu investir no projeto – teria sido suficiente para pagar as incontáveis horas de estúdio, a compra de bons microfones, as afinações do piano e a masterização de tantos fonogramas.
Daí também, por enquanto, ela só estar disponível por encomenda (mtmcontato@uol.com.br), a R$ 210.

Coluna do Ruy Castro, Folha de S. Paulo