Crítica – A Integral de Ernesto Nazareth por Maria Teresa Madeira

Queridíssima Maria Teresa

Ouvi todos os 12 CDs com a obra completa de Ernesto Nazareth.

Com essas gravações, você presta um serviço inestimável à música brasileira. Não só pela qualidade musical e técnica das gravações, mas também pelo interesse musicológico da coletânea. Tem-se a impressão de mergulhar no tempo e acompanhar ao vivo a gestação de cada composição. A sequência cronológica nos permite acompanhar o pensamento musical de Nazareth, seu processo de abrasileirar a herança de Chopin introduzindo cada vez mais o cromatismo nas sequências harmônicas e o baixo melódico cantado na mão esquerda, quase sempre em progressões descendentes, como no Odeon. Essa sua integral permite uma espécie de mergulho no tempo, para assistir ao nascimento de uma sintaxe musical brasileira,sem a herança europeia, como na Valsa Saudade, onde o baixo é apenas a base da harmonia e não um contraponto cantado. Vejo também uma influência das Quadrilhas e Cayumbas de Carlos Gomes em alguns tangos e Quadrilhas de Nazareth.
Acho que o próprio Nazareth ficaria feliz ao ouvir os andamentos que você imprimiu a todas as músicas, mesmo aquelas onde o tratamento pianístico é mais virtuosístico, você sempre valoriza o conteúdo musical com prioridade. Lembro que o Maestro Mignone me falou, que ouviu muitas vezes o próprio Nazareth tocando suas obras, e que seu tempo era sempre controlado, para enfatizar o conteúdo expressivo da música.

Enfim, Maria Teresa, obrigado e parabéns por esse tesouro, que é a sua Integral de Nazareth.

Edino
Rio, 06 de junho de 2016