Dedico este trabalho a Teresa e Clair (meus pais, in memoriam), Lucas e Leticia (meus filhos), Márcio (meu marido), meus professores e meus alunos.

MMI_0858Nazareth foi, é e será sempre uma das minhas maiores paixões. Gravar sua obra integral me deu a sensação de um mergulho com os olhos bem abertos num mar repleto de riquezas, contrastes e possibilidades que não só me ensinaram muito, mas me proporcionaram emoções muito profundas. Posso declarar que esta gravação é um divisor de águas, não só em minha carreira, mas também em minha história de vida.

Ouvi Nazareth na adolescência através de interpretações inesquecíveis de A Cor do Som, Arthur Moreira Lima, Eudóxia de Barros e Roberto Szidon. Tenho estes discos até hoje! E de lá pra cá fui cada vez mais me interessando, me envolvendo e me deliciando com sua obra.
A ideia desta integral surgiu há alguns anos, mas este sonho só virou realidade graças ao fato de ter ser sido uma das contempladas com o Premio de Música Brasileira da Funarte de 2012. Envolvi família, amigos, alunos, músicos, e confesso que no dia que terminei as gravações falei em voz alta: “se fosse preciso faria tudo de novo!”. Tenho saudades da rotina das gravações, já que meus grandes parceiros nesta jornada no dia-a-dia foram meu marido Márcio (técnico) e meu amigo-irmão Marcelo (diretor musical). Tive, ainda, a benção de ter meu próprio estúdio equipado com piano de cauda e tecnologia de alto nível pra realizar a gravação destes 12 CDs.

Cada música gravada mereceu uma atenção especial, sem privilégios, como cada filho que nasce; há as que se destacam, mas isso se deveu não ao meu gosto pessoal, mas às virtudes de cada uma delas. Essa importância foi dada, inclusive, às incompletas que, num ato de coragem, decidi gravar, criando o que faltava (que Nazareth me perdoe se não fui feliz nas minhas ideias, mas estava tão embebida de sua linguagem que me senti íntima o suficiente para me arriscar como sua parceira). 215 músicas que se tornaram 215 oportunidades para crescer, amadurecer e reverenciar a música brasileira genuína, sem nenhuma demagogia e, sim, com merecimento.
Agradeço profundamente aos meus mestres e aos meus alunos por terem preenchido meus estudos, minhas pesquisas e meu trabalho de inspiração e prazer. Apesar do trabalho árduo, estes estímulos constantes me fizeram sentir sempre recompensada.
Música como opção de vida, como meio de sobrevivência, como maneira de olhar o mundo, como forma de sentir as energias e as pessoas. Música como alimento. Graças a Deus!!! (Maria Teresa Madeira)

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The complete works of Ernesto Nazareth: Nazareth was, is and always will be one of my biggest passions. Recording his complete work gave me the feeling of diving with eyes wide open into a sea full of richness, contrasts and possibilities that not only taught me a lot, but provided quite deep emotions. I can state that this recording is a turning point, not only in my career but also in my life story. During adolescence, I heard Nazareth through unforgettable recordings by A Cor do Som, Arthur Moreira Lima, Eudóxia de Barros and Roberto Szidon. I have all the records up to this day! And since then, I have been even more interested, emotionally involved and delighted with his work. The idea of gathering Nazareth’s work occurred a few years ago. However, this dream only came true, thankfully, for being one of the winners from the “Prêmio Funarte de Música Brasileira” in 2012.Back then I involved family, friends, students, musicians, and I confess that on the day the recordings ended I said out loud, “if I had to, I would do it all over again!” I miss the recordings routine, especially because some of my greatest partners on this day-by-day journey were my husband Márcio (technician) and my friend Marcelo (musical director), whom I consider as a “brother”. I am blessed for having my own studio equipped with a grand piano and high-end technology to record these 12 CDs. Each recorded music deserved a special attention without privileges, such as every child that is born; there are those who stand out, not due to my personal taste, but thanks to the virtues of each song. Such relevance was given to incomplete works that as an act of courage, I decided to record and fulfill the missing parts (and I pray Nazareth forgives me if I was not successful with my ideas, but I found myself so steeped in his language that I felt close enough to take a chance as his partner). There were 215 songs that became 215 opportunities to grow, mature and honor the genuine Brazilian music without demagogy, but with merit. I am deeply grateful to my teachers and my students for filling in my studies, researches and work with inspiration and enjoyment. Despite the hard work, this continuous encouragement always made me feel rewarded.
Music as a lifestyle, as a means of survival, a way of looking into the world, an instrument to feel energies and people. Music as food.
Thank God!!!

ANDRÉ MEHMARI
Se me fosse solicitado escolher uma pessoa para gravar a integral de Ernesto Nazareth, esta pessoa seria a MTM. Destinada a tornar-se uma referência absoluta, um clássico no melhor sentido da palavra, a presente edição é um sonho realizado não somente para esta brilhante e corajosa pianista mas também para todos nós brasileiros, que ficamos mais ricos e plenos com ela.

EDINO KRIEGER
É um privilégio para qualquer compositor contar com um intérprete da categoria da Maria Teresa Madeira. Sobretudo quando ocorre um grau de afinidade como se observa entre a pianista e Ernesto Nazareth. Ela valoriza, com sua técnica e sua musicalidade, a obra admirável desse que é certamente o mais musical dos mestres do piano brasileiro.

TURIBIO SANTOS
“Maria Teresa Madeira grava a obra completa de Ernesto Nazareth” poderia ter um título igualmente forte: ”uma profecia que se realiza!” O talento de Maria Teresa Madeira, sua verve, sua graça estavam fadados a realizar esta integral já indispensável para todos nós. Agora contamos com este testemunho de uma pianista que viveu Brasil e sua música com unhas e dentes, com muita garra mas sempre graciosa e inspirada, dona de uma sutileza que fazem dela uma intérprete sensacional do nosso eterno Ernesto Nazareth.

Ernesto Nazareth (1863-1934)

Ernesto-NazarethNascido no Rio de Janeiro, viveu em um período crucial para a música brasileira, quando nossa identidade musical estava em plena formação. Suas mais de 200 composições contam a história da transformação da música no Brasil desde o Império, com diversas polcas, valsas e quadrilhas, até o início da República, quando Nazareth passou a trabalhar outros gêneros, como o tango brasileiro, vindo a consolidar as bases para a evolução do choro. Profundo conhecedor da técnica do piano e do repertório a ele associado, Nazareth também acabaria por sistematizar a linguagem pianística brasileira, misturando de maneira única o pianismo romântico de Chopin e Liszt com os sons que vinham dos conjuntos de choro e dos batuques. Ao longo de sua vida, Nazareth obteve grande reconhecimento do público, sendo alcunhado de “Rei do Tango”, e de seus pares (Villa-Lobos dedicou a ele em 1920 o primeiro de sua monumental série de Choros). Além disso, mais de 160 de suas obras foram editadas na época, e dezenas foram gravadas ainda durante a fase mecânica de discos 78-RPM. No entanto, seu grande legado ainda estava por ser assimilado.
Desde sua morte, sua obra vem passando por ciclos de redescobrimento, encabeçados por músicos das mais diversas esferas, como pianistas de formação erudita e chorões que utilizam diferentes instrumentações.

A cada década, novas camadas têm sido adicionadas à “tradição nazarethiana”, trazendo sempre novos olhares, sejam eles do ponto de vista interpretativo, ou de arranjos cada vez mais inventivos. Nos últimos anos, suas músicas passaram a ser aceitas cada vez mais em salas de concerto (não raro utilizadas em concursos de piano), e o “núcleo básico” de sua obra, que inicialmente consistia em cerca de 25 músicas (capitaneadas pelo infalível tríptico “Odeon/Brejeiro/Apanhei-te cavaquinho”), expandiu-se para englobar também dezenas de outras obras que estavam esquecidas ou inéditas, e que agora figuram cada vez mais nos repertórios.
Em 2013, quando se comemoraram os 150 anos do nascimento de Ernesto Nazareth, diversas homenagens foram realizadas, e seus manuscritos foram nomeados patrimônio cultural da humanidade pela Unesco (na categoria Memória do Mundo). Agora um novo capítulo marca a história de Nazareth, com a primeira gravação integral de sua obra pela pianista Maria Teresa Madeira, que desde a década de 1980 vem divulgando de maneira brilhante suas músicas por meio de concertos e gravações. Esta é a primeira vez que a obra de um compositor brasileiro é gravada em sua totalidade, e nada mais justo que o escolhido seja Nazareth, que tem sido referência para diversas gerações de compositores e intérpretes brasileiros. (Alexandre Dias)

Born in Rio de Janeiro, Ernesto Nazareth (1863-1934) lived in a crucial period for Brazilian music, when our musical identity was undergoing a full development. His over 200 compositions tell the story of the music transformation in Brazil since the colonial empire period with many polkas, waltzes and quadrilles, until the beginning of the Republic when Nazareth started to work on different genres, such as Brazilian tango, which consolidated the foundations for the evolution of the music genre called “choro”. Deep connoisseur of piano technique and repertoire associated to it; eventually Nazareth was responsible for the Brazilian pianistic language systematization, mixing uniquely the romantic pianism by Chopin and Liszt with sounds coming from “choro” groups and drumming. Throughout his life, Nazareth achieved great recognition from the public, being nicknamed “King of Tango”, and also from his peers (in 1920 Villa-Lobos dedicated to him the first of his monumental series of “Choros”). In addition to that, more than 160 of his works were published at the time and dozens were also recorded during the mechanical stage of 78-rpm discs. However, his greatest legacy was still to be assimilated.
Since Nazareth’s death, his work has been going through rediscovery cycles headed by musicians from different spheres, such as classical background pianists and “chorões” (“choro” performers) using different instruments. Every decade new layers have been added to the ” tradição nazarethiana” (tradition based on his work), always bringing new looks, whether from the interpretative point of view or from more creative arrangements. In recent years, his songs have become increasingly accepted in concert halls (commonly used in piano competitions), and his work “basic core”, which initially consisted of about 25 songs (captained by infallible triptych “Odeon / Brejeiro / Apanhei-te cavaquinho”) expanded to include also dozens of other works which were forgotten or unpublished, and now appear more often in repertoires. When the 150th anniversary of the birth of Ernesto Nazareth was celebrated in 2013, many tributes were held and his manuscripts were declared a UNESCO World Heritage site (Memory of the World Register). Now a new chapter marks the story of Nazareth with the first complete recording of his work by the pianist Maria Teresa Madeira, who has been brilliantly spreading her music through concerts and recordings since the 1980s. This is the first time the work from a Brazilian composer is recorded in its entirety, and it is only fair that Nazareth was the chosen one, whereas he has been a reference for several generations of Brazilian composers and interpreters.

MARIA TERESA MADEIRA

Desde o início, a intensa e multifacetada carreira musical de Maria Teresa Madeira encontra-se marcada por experiências importantes, seja no campo artístico, seja no campo acadêmico. Entre sua formação como bacharel em piano pela Escola de Música da UFRJ e seu título de mestre em Música pela Universidade de Iowa, nos EUA, teve a oportunidade de estudar com Anna Carolina Pereira da Silva, Heitor Alimonda, Miguel Proença, Arthur Rowe e Daniel Shapiro, além de Myrian Dauelsberg, Jacques Klein, Sergei Dorensky, Daisy de Luca e Carmen Prazzini, mestres com quem se aperfeiçoou em interpretação. Como solista já esteve à frente de orquestras como a Sinfônica Brasileira, Petrobras Sinfônica, Sinfônica da Universidade Federal de Mato Grosso, Cedar Rapids Symphony, University of Iowa Chamber Orchestra, Banda Sinfónica de la Ciudad de Córdoba (Argentina), Banda Sinfônica da Faculdade de Música do Espírito Santo.
Como camerista, uma atividade que também lhe é muito cara, apresentou-se ao lado de alguns dos mais importantes artistas do país como Noël Devos, José Botelho, Paulo Sérgio Santos, Altamiro Carrilho, Alceu Reis, Aloysio Fagerlande, Radegundis Feitosa, Carol McDavit, Martha Herr, Rosana Lamosa, Pedro Amorim, Rildo Hora, Nicolas Krassik, Maria Bragança, Paulo Mendonça, Léo Gandelman e Quinteto Villa-Lobos, além de outros consagrados instrumentistas internacionais como Alain Marion, Alain Damiens, Leopold La Fosse, Leon Biriotti, Paula Robinson, Bruno Totaro, dentre outros.

Já participou de 14 das Bienais de Música Brasileira Contemporânea, realizando várias estreias mundiais e locais de obras, algumas delas a ela dedicadas, de compositores como Ronaldo Miranda, Tim Rescala, Glicia Campos, Harry Crowl, Gilberto Gagliardi e Leandro Braga. Na área acadêmica, tem compartilhado suas experiências em cursos, workshops e Festivais de Música por todo o Brasil como o Festival de Inverno da Universidade Federal de Minas Gerais, Festival de Inverno de Campos dos Goytacazes, Curso Internacional de Verão de Brasília e Festival Vale do Café. Maria Teresa Madeira é, ainda, patrona do Concurso Nacional de Piano que leva seu nome, dedicado a revelar talentos de todas as faixas etárias. Já realizou recitais e concertos nos EUA, Colômbia, França, Argentina, Finlândia, Tunísia, Espanha e Alemanha, sempre priorizando a divulgação da música brasileira. Foi professora do curso de graduação do Conservatório Brasileiro de Música e atualmente é professora da UniRio, ministrando aulas no curso de Bacharelado.
Sua discografia conta com mais de 30 CDs, como solista ou camerista, e sua trajetória sempre esteve ligada à música de Ernesto Nazareth, seja nos diversos concertos em que apresenta suas obras, seja nos CDs que gravou inteiramente dedicados a ele, tais como “Sempre Nazareth” (Kuarup, 1997), e “Ernesto Nazareth Vol.1 e Vol.2” (Sonhos e Sons, 2003), este último indicado ao Grammy Latino. (Alexandre Dias)

From the beginning, the intense and multifaceted Maria Teresa Madeira’s musical career has been marked by important experiences, whether in the arts or in the academic field. Between her Bachelor’s degree in piano by the UFRJ School of Music and her Master’s degree in Music from the University of Iowa (USA), she had the opportunity to study with Anna Carolina Pereira da Silva, Heitor Alimonda, Miguel Proenca, Arthur Rowe and Daniel Shapiro, Myrian Dauelsberg, Jacques Klein, Sergei Dorensky, Dayse de Luca and Carmen Prazzini, masters with whom she improved in interpretation.
As a soloist, Maria Teresa has been at the forefront from orchestras such as the Sinfônica Brasileira (Brazilian Symphony), Petrobras Sinfônica, Sinfônica da Universidade Federal de Mato Grosso, Cedar Rapids Symphony, University of Iowa Chamber Orchestra, Banda de la Ciudad de Córdoba (Argentina), Banda Sinfônica da Faculdade de Música do Espírito Santo. As a chamber musician, a very dear activity to her, she performed alongside with some of the most important artists from the country such as Noël Devos, José Botelho, Paulo Sérgio Santos, Altamiro Carrilho, Alceu Reis, Aloysio Fagerlande, Radegundis Feitosa, Carol McDavit, Matha Herr, Rosana Lamosa, Pedro Amorim, Rildo Hora, Nicolas Krassik, Maria Bragança, Paulo Mendonça, Leo Gandelman, and Villa-Lobos Quintet, as well as with other established international musicians like Alain Marion, Alain Damiens, Leopold La Fosse, Leon Biriotti, Paula Robinson, Bruno Totaro, among others. She participated in 14 of the Bienais de Música Brasileira Contemporânea, performing several world premieres, some of them dedicated to her, by composers like Ronaldo Miranda, Tim Rescala, Glícia Campos, Harry Crowl, Gilberto Gagliardi and Leandro Braga. In the academic field, she has shared her experiences through courses, workshops and music festivals throughout Brazil, such as the Festival de Inverno da Universidade Federal de Minas Gerais, Festival de Inverno de Campos dos Goytacazes, Curso Internacional de Verão de Brasília and Festival Vale do Café in Vassouras. Maria Teresa is also the patron of Concurso Nacional Maria Teresa Madeira that bears her name, dedicated to revealing talents of all ages. Maria Teresa has performed recitals and concerts in the US, Colombia, France, Argentina, Finland, Tunisia, Spain and Germany, always prioritizing the dissemination of Brazilian music. Her discography has more than 30 CDs as a soloist and chamber musician. She was a Professor from the Undergraduate Program at the Conservatório Brasileiro de Música and is currently teaching at UniRio as an Assistent Professor. Her career has always been linked to the music of Ernesto Nazareth, featuring many concerts with his works and has recorded also three CDs entirely dedicated to him, such as “Sempre Nazareth” (Kuarup, 1997), and “Ernesto Nazareth Vol.1 and Vol.2 “(Sonhos and Sons, 2003), the latter nominated for a Latin Grammy.

Agradecimentos

Alexandre Dias, André Mehmari, Bia Paes Leme, Cintia Coelho, Edino Krieger, Instituto Moreira Salles, Luiz Antonio de Almeida, Luiz Grillo, Marcelo Rodolfo, Márcio Monteiro, Museu da Imagem e do Som, Paulo Aragão, Raphaella Sanches, Turibio Santos e Wandrei Braga.

Créditos

Pianista: Maria Teresa Madeira
Direção musical: Marcelo Rodolfo e
Maria Teresa Madeira
Técnico de gravação: Márcio Dorneles
Mixagem e masterização: Márcio Dorneles
Projeto Gráfico: Flamba
Produção: Maria Teresa Madeira
Assessoria de produção: Raphaella Sanches
Assessoria musical e textos: Alexandre Dias
Fotos de Maria Teresa Madeira e piano*: Márcio Monteiro
Fotos de Ernesto Nazareth: site
www.ernestonazareth150anos.com.br
Partituras: sites
www.ernestonazareth.com.br e
www.ernestonazareth150anos.com.br
Tradução dos textos: Anilza Pereira
Estúdio: Laranjeiras Records, Rio de Janeiro – Brasil (www.facebook.com/laranjeirasrecords)
Piano: Yamaha G2
Afinador: Luigi Santucci

Gravado de 23 de abril de 2014 a 15 de setembro de 2015.
Este projeto só pôde ser realizado graças
ao PREMIO FUNARTE DE MÚSICA BRASILEIRA 2012.

*As fotos do piano que pertenceu a Ernesto Nazareth foram produzidas no Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro. O instrumento foi doado ao MIS pelo biógrafo do compositor – Luiz Antonio de Almeida – em 20 de março de 1997.